quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Balancete 2009

Acredito que vários Dubladores e Diretores já fazem questão de esquecer deste ano. Muitos profissionais ficaram literalmente sem trabalhar em 2009 na dublagem, tendo que dedicar-se as demais artes para sobreviver. Pelo que tenho acompanhado, no Rio a situação foi um pouco melhor, o que ainda está longe de caracterizar algo realmente bom.

Da minha parte, um mero fã que faz pesquisas sobre um nicho de seriado, não posso reclamar. Consegui retomar contato com alguns dubladores e alavancar novos “parceiros” para essa minha empreitada. Também consegui desvendar mais alguns nomes até então desconhecidos. Algumas fotos inéditas foram parar no meu acervo, além de dicas de profissionais (dados por outros profissionais) que podem se transformar em preciosos nomes para nossos casts no futuro. Ainda não vou contar sobre essas descobertas, pois pretendo fazer uma postagem mais abrangente adiante.

E a parte péssima deste ano, deu-se na semana do natal: duas grandes perdas, não só para a dublagem paulista, mas para a arte em si. São eles:

23/12/2009 - José Soares – dublador experiente, mega versátil e talentoso. Trabalhava no ramo desde a época da AIC, e o amigo Marco Antônio tem em seu Blog algumas imagens do ator em sua juventude, inclusive me recordo no momento desta foto com o time de futebol da empresa. Infelizmente não participou de nenhum tokusatsu feito na Álamo, mas indiretamente, teve uma grande influência: Nair Silva declarou em seu Orkut que aquele que a lançou em Rádio Teatro, foi ninguém menos que o Soares. E o restante da história dela nas dublagens da Álamo nós já sabemos. Segundo a Alessandra Araújo, numa postagem no mesmo site, nesta época ele era diretor de dublagem nos estúdios do SBT (antiga TVS), onde trabalhava na Elenco (empresa do Felipe Di Nardo) e na Maga (pertencente ao Marcelo Gastaldi). O trabalho que mais marcou pra mim foi em Anime, como o Mestre Kame, do Dragon Ball feito na Gota Mágica. Ele literalmente se esbaldava no papel do velhote tarado. A voz dele encaixava-se com perfeição no personagem, tão bem quanto o dublador japonês (Seyuu), Kouhei Miyauchi (também já falecido). Com certeza vai deixar saudades. Segue um trecho de sua interpretação, junto com Noeli Santisteban – o Goku - e Gileno Santoro, o Narrador do Torneio na primeira dublagem, e que depois herdou o “velhote tartaruga” durante a fase Z, dublada na Álamo:


26/12/2009 - Muíbo Cury – outro nome de peso na dublagem paulista. Ator, cantor, radialista e jornalista, trabalhava no Grupo Bandeirantes há mais de 50 anos. A primeira vez que colocou a voz em um tokusatsu foi em Flashman, série esta que na opinião de muitos fãs foi a melhor dublagem de um seriado japonês no Brasil. Escalado pelo saudoso Líbero Miguel no papel do Caçador das Trevas Kaura, deu vida a um personagem extremamente forte, ambicioso e orgulhoso. A partir de sua aparição até o fim da série, alimentou uma rivalidade extrema contra o líder da equipe, dublado por Francisco Brêtas. Depois fez a primeira voz do Mântor do Diabo, o líder do Clã Maligno da série Lion Man, o Sr. Sênda no capítulo 03 de Jiraiya, e o ninja ancião Kanin Chang Kung Fu, no episódio 04 da mesma série. A partir daí, fez pontas em Metalder e Machineman. Teve uma vasta carreira em dublagem e na música, sendo um profissional gabaritado em todas as veias da arte, embora nunca tenha escondido sua preferência pelo Rádio. Segue um trecho de sua interpretação em Flashman:


Nós, fãs, torcemos para que no ano seguinte haja uma virada na dublagem, que surjam mais canais a cabo como o Space e Fox, mais obras dubladas em cinemas e muito, muito trabalho para os excelentes diretores e atores em dublagem que temos em nosso país. Feliz 2.010 e até lá!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Erros no Cast do Jaspion

Aproveitando a deixa da postagem anterior, falarei sobre o elenco de dublagem que surpreendentemente a Focus Filmes resolveu incluir no segundo Box dos DVD’s do Jaspion.


Fiquei muito feliz ao me deparar com os créditos no fim dos capítulos, mas ao mesmo tempo triste ao ver que simplesmente pegaram um cast antigo e desatualizado, e que infelizmente ele saiu de nossa comunidade Dubladores de Tokusatsu. Foi uma falta de atenção da nossa parte, pois há anos garimpamos informações afim de corrigir esses equívocos, e não tivemos o bom senso de organizar tudo numa só relação detalhada e atualizada. Vamos aos erros:



Direção: Consta que foi feita por Gilberto Baroli e Nair Silva. Essa informação eu ainda não tenho 100% de certeza sobre sua veracidade, pois numa conversa com o Benjamim Filho, ele me disse não lembrar do Baroli dirigindo, mas sim do Líbero Miguel e de algumas vezes até mesmo o Mário Jorge. Vale lembrar que o Benjamim participou apenas da primeira leva de episódios que foram dublados, isto é, até o capítulo 16. Já o próprio Baroli, disse pessoalmente ao Yuri num evento que a direção de Jaspion foi dele. O primeiro personagem a ter a voz do Gilberto foi o Zamurái, no capítulo 19. Esse capítulo faz parte da segunda parte da dublagem da série, que foi interrompida no capítulo 16, e teve mudanças de elenco conforme já abordei na primeira postagem deste Blog. Então fica a dúvida: O Baroli dirigiu a partir da segunda etapa? E a Nair, revezava com ele na Direção?


Prof. Nambára: Armando TirabosCHI teve seu nome publicado com a grafia incorreta;


Kanôko: Pelo que está escrito, entende-se que ela teve a voz da Lucia Helena desde a sua primeira aparição. No capítulo 15, capítulo de estréia da família Nambára, ela teve a voz da Suzana Lakatos. A partir do 16, sempre teve a voz da Lucinha;


Ród: Foi o único personagem creditado ao Eduardo Camarão, que fez muitas outras participações, como o Takéshi (do trio Jac Brothers), John Tiger, Dr. Páp e vários vozeirios;


Kênta: Lira Rodrigues nunca dublou o Kênta. Na verdade, essa é uma das profissionais que eu ainda não tenho a sua voz definida e catalogada. Ela pode até ter participado das séries japonesas, mas eu ainda não sei qual voz é a dela. No entanto, o garoto teve 3 vozes no decorrer da série: no capítulo 15, quem fez a sua voz foi a Denise Simonetto. Já em sua próxima aparição, que se deu no capítulo 17 (após a pausa na dublagem, onde a Simonetto foi uma das profissionais que não continuaram), quem assumiu foi a Thelma Lucia, que permaneceu até o capítulo 27, onde este passa a ter a voz do Hermes Baroli até o fim da série;



As Graciosas: Aqui o problema é mais complexo. Não sei de onde alguma boa alma conseguiu tirar esses nomes e colocar nesse elenco. Vamos analisar caso a caso:


A Christina Rodrigues estava começando na dublagem, e até fez algumas pontas em Jaspion e Changeman, mas creditar a ela uma personagem aleatoriamente, é outra história. Tenho vários vozeirios que podem até ser dela, mas ela própria não conseguiu reconhecer. O único trecho de Jaspion que dá pra saber com 100% de certeza que a voz é dela, é no capítulo 33, onde ela faz uma das meninas que é amaldiçoada por outra moça, usando o amuleto da Kílza. No trecho, aparecem as seguintes vozes, na ordem: Suzana Lakatos, Lucia Helena, Christina Rodrigues e uma Dubladora Desconhecida. E pra ter mais certeza, enviei o trecho das Graciosas pra ela, que me disse que acha que a voz não é dela;


Ouça o trecho com a voz da Christina Rodrigues em Jaspion:




Já a Alessandra Araujo me contou que começou a carreira no final de 1988. Com esta certeza da parte dela, fica difícil ela ter dublado uma das moças do trio. Ela também ouviu o trecho, e disse que não conseguiu reconhecê-la. Curiosamente, a Alessandra não fez nenhuma voz também em Flashman, que foi dublado em 1988/ 89, e só foi aparecer pela primeira vez em pontas na série Jiraiya, em meados de 1989;


O último foi o pior palpite de todos. Jamais poderia ter sido a Isaura Gomes fazendo uma das vozes. A Isaura é uma dubladora que tem um timbre forte e inconfundível. Infeliz de quem escreveu isso. Pra falar a verdade, a Isaura não dublou praticamente nada em tokusatsu. Pra não dizer nada, ela fez uma ÚNICA ponta em Jiban, no capítulo 37, que era uma vendedora de uma loja de roupas;


Ouça o trecho com a voz da Isaura Gomes em Jiban:




Assim, o correto é deixar em branco a informação sobre quais profissionais fizeram as vozes das Graciosas.


Ouça o trecho com a voz das Graciosas em Jaspion:




Tip e Bragúl: Já não é o primeiro caso que vejo na internet de alguns fãs fazerem confusão com esses dois nomes: Waldyr de Oliveira e Jorge Pires. O Pires atuou em quase todas as séries dubladas na Álamo desse gênero (exceto Flashman), e tem um timbre, na minha opinião, diferente do Waldyr. Já o Waldyr, exatamente como a Isaura, teve apenas uma mísera participação, que foi o monstro VirusKa, no capítulo 35 de Kamen Rider Black RX;


Ouça o trecho com a voz do Waldyr de Oliveira em RX:




Daizúke: Corretamente creditado ao Wendel Bezerra, mas como no caso do Camarão, fez muitos outros personagens: a segunda voz do Kôko, o Yassú...;


Yumíko: A Ivete Jayme, assim como os já citados Camarão e Wendel, fez várias outras participações no seriado, como o menino Mizutâni, o Pepe etc;


Pai da Yumíko: Erroneamente creditado ao Francisco Borges. Esse personagem, assim como o Cérebro Eletrônico Sakurá e o Repórter dos últimos capítulos foi dublado pelo Batista Linardi;


Ouça o trecho com a voz do Baptista Linardi em Jaspion:




Kilmáza: Outro erro grave. Kilmáza foi dublada pela Neuza Maria Faro, que fez alguns vozeirios também em Changeman e depois sumiu da dublagem (de tokusatsu);


Ouça o trecho com a voz da Neuza Maria Faro em Jaspion:



Kelly (pai do Jaspion): Boato desmentido há anos. O Dublador do pai do Jaspion é o Mauro de Almeida, que também fez a voz do Monstro Espacial Guirúba e Guizân em Changeman, além da primeira voz do Kanin Dragon em Jiraiya e do Yamaróshi Mozú no capítulo 36 de Goggle V. O Nelson Machado dublou somente mais para o fim da série, o pai do Daizúke e o pai da Lúmi, além do Príncipe Ícaro e a segunda voz do Monstro Espacial Zônos em Changeman.


Ouça o trecho com a voz do Mauro de Almeida em Jaspion:



Infelizmente, para as pessoas que não tem o costume de garimpar na internet informações sobre dublagem, esses nomes incorretos ficarão em suas mentes como os profissionais que deram vida aos personagens. Uma pena, literalmente.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fizeram valer!

Depois de muito tempo, a Câmara aprovou a lei que o finado Deputado Clodovil Hernandez propôs em 24/04/2007, a respeito da obrigatoriedade da apresentação dos nomes dos dubladores em obras audiovisuais. Não é uma notícia bombástica, mas não é nada mais do que já deveria ter sido feito há muito tempo. Até na internet, um terreno desregrado e de ninguém, alguns sábios usuários creditam determinadas coisas aos que nela trabalharam, e por que só em Dublagem que não era assim?

http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=349223

Se houvesse um bom senso, não precisaria virar lei para só então passar a ser cumprida. Poderiam fazer de modo espontâneo. Mas infelizmente, a palavra bom senso não é usada com frequência no nosso cotidiano. É como um “causo” que o Nelson Machado contou em um dos Papo com o Machado: “Uma vez, conversando com o Sr. Michael Stoll, nos corredores da Álamo, indaguei o por que de nossos nomes não constarem nos créditos de encerramento das obras dubladas, e ele me respondeu sem pensar muito: Simples, por que vocês não pediram!” – plagiando o sotaque do profissional.

Naquela época (o Nelson não mencionou a data) era a realidade, mas é sabido que há anos os dubladores lutam para conseguir um espaço maior dentro do próprio ramo e também em outras mídias, pois todo dublador é ator, mas nem todo ator consegue ser um dublador convincente. Numa dessas circunstâncias da vida, algum empresário do ramo televisivo, por exemplo, pode estar belo e formoso sentado em sua poltrona ultra confortável num fim de semana vendo um filme dublado, e gostar da voz feminina que dublava a Jennifer Aniston. Em outros tempos, ele poderia até pensar: “Puxa que voz bonita, daria uma bela narração para um programa que estou criando” ou “Gostaria de conhecer a atriz dona dessa voz, talvez pudesse participar de uma novela ou seriado”... mas o que acontecia? Acabava o filme e ele nem se dava o trabalho de pensar um pouco mais no assunto, uma vez que seria quase impossível (ou no mínimo muito trabalhoso) descobrir quem era a pessoa que fazia a voz da personagem. A partir de agora, usando o mesmo exemplo, no fim do filme vai aparecer lá “Fulana de Tal”, e com uma rápida busca no Google ou até mesmo no Orkut, as chances são elevadas dele conseguir não só achar a profissional, mas até mesmo contatá-la de imediato. Isso tudo é mais do que merecido a classe. Só quem realmente corre atrás de informações sobre dubladores antigos é que sabe o quão sofrido é pra se descobrir algum nome. Não há registros! Está tudo dentro da cabeça de diretores e dubladores, isto é, os que ainda se lembram de coisas feitas há mais de décadas. E ainda tem aqueles que não gostam de falar no assunto... aqueles que não sabemos como encontrá-los... etc... etc...

A Disney já vinha apresentando o elenco em suas produções faz algum tempo, e agora todas as distribuidoras terão que fazê-lo. Neste instante, começa-se a levantar suposições de como isso será concretizado, se por meio de narração ou como acontece nos créditos convencionais de filmes, apenas por escrito. Já vi algumas aberturas de filmes antigos dublados na Herbert Richers (profissional este que nos deixou no último dia 20), com o narrador clássico falando os nomes dos astros da produção, e achei um pouco estranho. Tá certo que ouvir um brasileiro pronunciando o nome Richard Dean Anderson (Uritchard Din Enderson) é bem diferente de ouvi-lo pronunciar Garcia Junior. Mas acho que a boa e velha tela preta logo após a última cena do filme, com uma fonte de tamanho coerente ascendendo numa velocidade plausível, seria o ideal. Mas antes de todos os créditos da produção! Ninguém merece ficar vendo algumas dezenas de minutos de letras creditando até o 59º Assistente de Produção pra só depois ver alguns segundos contendo os nomes dos dubladores do nosso país. Vamos prestigiar a nossa parte. A Produção inteira já foi feita lá fora. A única coisa que foi preparada em nosso país fica por último? Olha a palavrinha já citada lá em cima, o Bom Senso! E parabéns a classe por mais esta conquista!

p.s.: puxando pela memória, lembro-me vagamente de que em meados dos anos 90, fui ver Os Cavaleiros do Zodíaco – O Filme no cinema, e no final, a Gota Mágica creditou os dubladores. Lembro até que foi por causa disso que descobri que o dublador do Shura de Capricórnio era o Fábio Moura.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Organizando a cronologia

É óbvio que essa postagem deveria ser a publicação inicial do blog, mas em função da data e do teor da homenagem prestada ao Líbero Miguel, resolvi deixá-la em segundo plano.

Depois de muito tempo analisando, pensando, organizando e pesquisando, eis que consegui realizar o sonho de criar este espaço pra falar dos assuntos que tanto gosto, e assim poder dividi-los com quem possa interessar. Já tinha imaginado isso há mais de um ano, mas por questões de tempo e até mesmo de desorganização, confesso, acabei adiando um pouco o ponta pé inicial.

Outro motivo que me deixava com o pé atrás, era saber se eu conseguiria me adaptar ao formato de publicação e edição do Blogger, o que não passou de uma bobagem. O conteúdo é auto-explicativo e fácil de manusear. Só o Layout que é simples em comparação com os milhares de blogs espalhados pela internet, mas infelizmente é o que o meu conhecimento permitiu criar. Pretendo compensar a falta de apetrechos visuais com conteúdo nas postagens.

Ao longo desse tempo, fui acumulando material, informações, ampliando meus contatos e organizando tópicos que estavam espalhadas pela internet sobre os dois assuntos: Tokusatsu e Dublagem. Isso tudo no intuito de que eu consiga manter o espaço sempre atualizado. Sei que isso é muito difícil, pois além de trabalhar em dois lugares (inclusive alguns fins de semana), não tenho nenhum tipo de remuneração aqui. Faço simplesmente para disseminar o gosto que tenho por essa arte e pelos artistas nela envolvidos. Minha meta inicial é de postar pelo menos uma vez por semana, e ficar no máximo 15 dias sem trazer novidades. Tá bom, eu sei que já me atrasei, mas estou me empenhando pra que isso não se repita.

Gostaria de agradecer a todos aqueles que, direta ou indiretamente se comunicam (ou comunicaram) comigo ao longo desse tempo, e que me influenciaram e encorajaram a realizar mais um dos meus sonhos. Um nome que não pode faltar aqui é do Yuri Calandrino, que lá atrás, antes de qualquer um pensar em se aprofundar sobre a dublagem de seriados japoneses, criou sua comunidade no Orkut e deu início a uma atitude inédita até então, de entrar em contato com os atores e iniciar toda essa caminhada, neste momento liderada por mim. Conheço-o desde o final de 2005, onde batíamos papo sempre que possível por e-mails ou MP’s, e só fomos nos encontrar pessoalmente este ano, em Julho, no Anime Friends. Muito obrigado, amigo.

Se fosse citar mais nomes aqui, com certeza eu acabaria sendo injusto com alguém, então resolvi “poupá-los”. Fica registrado o meu agradecimento de coração a todos aqueles que um dia me procuraram ou que eu tenha procurado e que essa pessoa se deu ao trabalho de corresponder comigo.

Da parte dos dubladores, que realizaram o excelente trabalho na época e ainda estão na luta pra sobreviver, e que no meio de tantos altos e baixos da profissão, perdem alguns minutos do seu precioso tempo pra me responder sobre pessoas, vozes, trabalhos, direção etc, tudo relacionado ao fantástico mundo da dublagem, o meu muito obrigado. Vários já receberam a minha gratidão por e-mail, e os que não receberam, certamente receberão.

Por último, mas não menos importante, minha esposa Samanta, que tem paciência quando eu estou em frente ao computador capturando e editando trechos de dublagem e escrevendo para os colegas, e no final das contas acabou até me ajudando com revisões de textos para o Blog.

Os Comentários são sempre bem vindos, e podem até ser anônimos. Não deixe de elogiar, criticar, solicitar e até mesmo questionar. Também estou atualizando uma antiga comunidade sobre o assunto no Orkut pra acompanhar o Blog, e pretendo usar o Twitter com mais frequência.

Lugares onde posso ser encontrado:

Link para a comunidade: Falando de Dublagem
Twitter: http://twitter.com/idbetarelli
Meu MSN: shar_ivan@hotmail.com
Meu e-mail: ivanbetarelli@yahoo.com.br

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

20 anos sem Líbero Miguel

20 anos – Quando olhamos para trás e nos deparamos com o tempo, dizemos: “Nossa, parece que foi ontem, e já se passaram 20 anos!” É, 20 anos se foram, e junto com eles um profissional ímpar, de uma arte magnífica, onde poucos sabem reconhecer o seu real valor. Estamos falando da arte da Dublagem, ou mais diretamente sobre Líbero Miguel Giachetta.

Paulista, nascido aos 26 de Setembro de 1932, ao que tudo indica sempre teve a veia artística muito fluente em sua vida. Sites como a Wikipédia, creditam a ele a atuação em produções cinematográficas como “O Pequeno Lorde” (1957), a direção de Telenovelas como “As Grandes Esperanças” (1961) e filmes como “Os Insaciados”, de 1981. Sua participação em rádio também é fato consumado. Seus trabalhos mais conhecidos são os mais recentes, já em Dublagem, devido à disseminação do conhecimento por diversas mídias ao longo dos anos. Antigamente, era difícil saber algo sobre uma pessoa da qual você era fã, fato esse que mudou completamente com a chegada (talvez a palavra correta seja “propagação”) da Internet ao mundo. Ficava-se a mercê de revistas ou programas de rádio, e até mesmo televisão, mas o alcance dessas mídias era relativamente baixo, devido à grande diferença econômica entre as pessoas. Desse modo, pode se ouvir sua voz em alguns personagens de programas conhecidos de longa data do público brasileiro, como é o caso do desenho animado do Pica Pau, que estreou no Brasil pela Record, passou pelo SBT e Globo, voltando à primeira casa e sendo exibido diariamente nos fins de tarde da emissora.


E foi justamente na Dublagem que o seu trabalho se difundiu de forma mais ampla, graças ao espaço que essa arte promissora vinha alcançando. Ele acompanhou essa evolução desde o começo, participou de vários estúdios pioneiros, como a Gravasom e a lendária AIC – Arte Industrial Cinematográfica – São Paulo, fazendo trabalhos notáveis ao lado de outros profissionais, que certamente serão pauta no futuro. Nos anos 80, Líbero foi o Coordenador Artístico da empresa Álamo, em São Paulo, criada pelo Inglês Michael Stoll. Foi nesse período que me deparei pela primeira vez com seu trabalho.

Um pouco da história...

Desde 1985, Líbero dirigia o estúdio e tinha colegas que o acompanhavam/ auxiliavam na direção de dublagem de várias séries e filmes, dentre eles Mário Jorge Montini. Uma recém fundada distribuidora de São Paulo, de nome Everest Vídeo, que vinha de uma vídeo-locadora chamada Golden Fox no bairro da Liberdade, acabara de importar dois seriados "Live Action" (com atores reais, que no seu país de origem recebe o nome de “Tokusatsu”) e um desenho animado japonês (conhecido como “Anime”), fechando com a Álamo um contrato para a tradução e dublagem desses seriados. Toshihiko Egashira e Wilson Katakura eram os empresários por trás dessa façanha. Esses seriados eram:

O Fantástico Jaspion

Esquadrão Relâmpago Changeman

Comando Triplo Dolbuck

Sobre o trabalho realizado com essas séries, apenas uma data é confirmada com exatidão até o momento. Então, no dia 17/09/86, o primeiro começou a ser dublado. Com a demanda crescente de trabalho no estúdio, Mário Jorge resolve convidar de volta à empresa Gilberto Baroli, que já havia trabalhado por lá, mas estava em outro estúdio na época, para auxiliar na direção e consequentemente voltar a dublar na casa. Assim, Nair Silva, esposa do Líbero também se juntou ao time. Foi com esses quatro grandes nomes que tudo começou, numa arte que viria a me fascinar até hoje.

Dividindo a direção das séries, o quarteto acabou dublando personagens chave nos seriados, dando uma interpretação esplêndida, e fazendo história. As séries começaram a ser dubladas sem muita expectativa, pois apenas um lote inicial de 16 capítulos seria concretizado, aguardando um retorno sobre a aprovação do público alvo para a continuação do trabalho. Nesse pequeno hiato, Mário Jorge desligou-se da empresa. Em 1988, as séries caíram no agrado das crianças e estouraram. Um estilo de produção que não era inédito no país, pois em outras épocas, seriados do mesmo tipo fizeram sucesso por aqui, como é o caso de Ultraman e A Princesa e o Cavaleiro. As Fitas VHS vendiam muito, e a distribuidora conseguiu firmar um contrato com a emissora carioca Rede Manchete, colocando as séries no ar diariamente, transformando os heróis em sucesso nacional. Assim, mais do que depressa, a continuação da dublagem foi solicitada. Infelizmente, não é sabido quanto tempo se passou desde a dublagem inicial até a dublagem final dos episódios. Por consequencia, tivemos algumas alterações de vozes nos elencos principais das séries, mas nada que prejudicasse a qualidade e o resultado final do trabalho. As mais perceptíveis foram:

Em Jaspion, Denise Simonetto dublava uma protagonista, e foi substituída por Cecília Lemes; Benjamim Filho, que dividia as narrações com Francisco Borges havia saído do ramo, deixando a cargo do segundo a narração total; e Ricardo Medrado assumiu o personagem até então dublado pelo Borges.
Em Changeman, tivemos a saída do Paulo Ivo, que dublava o protagonista da série, dando lugar novamente à Ricardo Medrado; além do Mário Jorge, que dublava uma vilã e foi substituído à altura por Borges de Barros (e em um arco de 4 capítulos pelo próprio Líbero).

As séries foram veiculadas a exaustão na grade da emissora dos Bloch, levando a distribuidora, satisfeita com o retorno financeiro, à importar mais um programa: Comando Estelar Flashman, no início de 1989. Nessa parte da história, o quarteto de sucesso se formava novamente: Carlos Alberto Amaral integra o time de diretores da casa, assumindo as narrações de todas as séries que ali foram dubladas a partir desse momento. A nova série foi comandada pelo Líbero em pessoa, do começo ao fim, sendo até hoje tida por muitos fãs como a melhor dublagem de um seriado tokusatsu. Talentosos iniciantes juntaram suas interpretações com gigantes oriundos do rádio, formando um elenco invejável e impecável. Desta vez, Líbero deu vida ao vilão maior, o Patriarca Monarca La Deus.


Como o sucesso do gênero não dava sinais de queda, e o nicho de mercado era promissor, outros licenciadores entraram na jogada, como foi o caso da Top Tape, do proprietário José Rozemblits. Assim, no final de 1989, aterrissou em terras tupiniquins a série Jiraiya, O Incrível Ninja. Mais uma vez, o estúdio escolhido pra fazer a Versão Brasileira foi a Álamo. Novos talentos que surgiram no seriado anterior, fazendo apenas pequenas participações e vozeirios, desta vez chegam ao papel de protagonistas. Da mesma forma brilhante, Líbero Miguel assumiu a direção e a voz do vilão Oninin Dokusai, dando continuidade ao trabalho categórico.

Após 16 capítulos finalizados, o inesperável aconteceu: Líbero sofreu o rompimento de um aneurisma cerebral e acabou falecendo, aos 57 anos, no dia 28/10/1989, no auge de sua carreira, se é que assim podemos dizer, pois sua passagem, por onde quer que seja, sempre alcançou o clímax. Um choque para os amigos e uma perda irreparável para a arte brasileira. Houve uma pausa inevitável na dublagem da série. A partir do capítulo seguinte, o personagem que havia recebido a voz de Líbero, acabou ganhando uma nova interpretação, por Gilberto Baroli. Assim, Nair Silva, a viúva de Líbero, assumiu a direção da série e ficou como Coordenadora da casa até 1996, dirigindo, dublando, escalando e administrando as produções internas.

Dono de um timbre de voz meio rouco - porém marcante - com personalidade em suas palavras, imortalizou sua voz em alguns personagens como o vilão principal do seriado Jaspion, o Satãn Goss. Em Changeman, interpretou os mais hilários personagens, desde um descolado monstro cantor de ópera, até um monstro frio e calculista que possuía um cérebro eletrônico. A voz dele se encaixava com facilidade nos personagens, e ao mesmo tempo se escondia bem nas “Dobras”, ação que às vezes era necessária ser feita, dublando mais de um personagem num determinado filme ou num capítulo de uma série. Termina aqui a breve participação de Líbero Miguel em minha vida.

Há dois anos busco informações em todo lugar e com todas as pessoas disponíveis que tiveram algum tipo de contato com esse profissional. Pouco se sabe, e poucos se manifestam, mas o suficiente para eu formar uma opinião concreta sobre sua personalidade. Embora aparentasse ser (e até certo ponto realmente era) uma pessoa extremamente fechada, possuía um talento externo cativante. É unânime, não há quem não use os mais agradáveis adjetivos para descrever o que ele foi. Uma pessoa a frente do seu tempo, com tato e percepção aguçados ao extremo quando o assunto era a qualidade na arte. Sempre enxergava a habilidade alheia, dando chance aos iniciantes e mesclando a juventude destes com o talento e a experiência dos veteranos. Abaixo, algumas das opiniões sobre suas “Crias”, nome que carinhosamente Nair costuma usar para os profissionais que começaram com eles e se firmaram habilmente no ramo:


“Quando eu precisei aprender, Líbero foi meu professor; quando eu precisei trabalhar, ele foi meu amigo.”
Gilberto Baroli

“O Líbero, além de grande profissional, era um figura humana como poucos, e se divertia muito conosco durante as gravações. Formávamos um grupo tão divertido de se trabalhar, que caímos nas graças até do Seu Michael Stoll, o lendário dono da Álamo.”
Francisco Brêtas

“O Libero, na minha opinião foi o maior e melhor diretor de dublagem no Brasil! Era uma pessoa maravilhosa pra trabalhar. Muito profissional e sempre lembrava a gente do sentimento nos momentos certos. A perda dele foi minha, de vocês, da arte em São Paulo.”
Lúcia Helena Azevedo

“Se existe alguém importante para a dublagem no país, esses nomes são Líbero Miguel e Nair Silva. O Líbero, junto com a Nair, foram meus grandes mestres. Ele começou na época que Rádio e TV eram novidades por aqui. Foi um pioneiro e deixou um legado muito importante. Tudo que sei hoje de interpretação Retórica e de Improviso, devo a ele. Líbero me ensinou a ser ator. Ele foi um dos maiores atores e intelectuais do Brasil.”
Carlos Alberto Amaral

“... e meu eterno agradecimento aos mais antigos, aqueles que serviram de exemplo quando eu comecei... e como dívida profissional, pessoal e humana, sem dúvida, Líbero Miguel, inesquecível mestre e amigo.”
Nelson Machado

“Trabalhar com o Líbero era um xodó... era um dos melhores diretores que tínhamos na dublagem. Aliás, eu fiz meu primeiro trabalho na dublagem com ele... foi ele que me indicou pro Sr. Michael, dono da Álamo, e fui aprovado por eles no teste e nunca mais parei.”
Figueira Junior

“É muito difícil falar sobre o Líbero. Como você disse, uma pessoa à frente de seu tempo, uma pessoa inovadora, sempre tendo idéias, muito bem informado, ou como se diz hoje, antenado com tudo. Na profissão então, nem se fala. Quando ele saía da direção e atuava na dublagem, era admirado, pois sempre criava alguma coisa, melhorava o trabalho.”
Benjamim Filho

Ouça um trecho da voz de Líbero Miguel, dialogando com a personagem de Nair Silva, no seriado Changeman:



Basta aguardar alguns instantes que o trecho começa a ser reproduzido automaticamente.

Fica aqui registrado uma singela homenagem a uma pessoa que, embora eu não tenha conhecido pessoalmente, fez e continua fazendo parte da minha vida e de tantos outros fãs. Tudo o que escrevi acima foi o que consegui apurar nesse tempo, e é óbvio que pode conter alguma informação que não relate 100% a verdade, por maior cuidado que eu tenha tido ao pesquisar e escrever.

Comentários, adição de informações, correções, elogios, críticas e qualquer coisa do tipo são EXTREMAMENTE bem vindas.