quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Conheçam Ricardo Medrado

Finalmente, um dos rostos mais aguardados pelos fãs das séries japonesas dos anos 80 pode ser conhecido pelo grande público.

Após anos de pesquisas, conversas com diversos dubladores e catalogações de inúmeros trabalhos, é com muita satisfação que realizo esse meu sonho pessoal, e suponho que muita gente compartilha deste mesmo desejo há tempos.

O primeiro trabalho que conheci do Ricardo Medrado foi na dobradinha Jaspion/ Changeman. Essas dublagens são datadas do final de 1986, mas só foram veiculadas em VHS no ano seguinte, até o grande estouro na TV Manchete, em 1988.

É fato que a maioria lembra dele como a voz do Tsurugi Hiryuu/ Change Dragon e do Macgaren, já que são as séries que mais cativaram os telespectadores quando nem se sabia da existência da palavra "Otaku" neste lado do mundo. E curiosamente foram esses dois personagens que ele "herdou" de outros profissionais, que fizeram a primeira parte das dublagens: Paulo Ivo (Changeman) e Francisco Borges (Jaspion). Inúmeros outros papéis apareceram em séries seguintes como Flashman, Jiraiya, Jiban, Metalder, e depois de um certo hiato, um fixo no Kamen Rider RX, em 1995. Mas em nenhum deles a sua interpretação marcou tanto como nos pioneiros.


Pelos depoimentos que colhi, Medrado era uma pessoa excêntrica. Curtia Rock (como é possível perceber na imagem, empunhando um disco dos Beatles), andava de moto e vestia-se de forma condizente com aquilo que curtia. Há alguém que lembra dele usando uma camisa estampada com a foto do Che Guevara, por exemplo. Gostava de tudo que fosse relacionado a som, e depois que afastou-se da dublagem, na segunda metade dos anos 90, abriu uma pequena fábrica de caixas de som e amplificadores. E com ela ficou até o seu falecimento, onde não se sabe o dia e mês exatos, mas foi em 2002. Não consegui encontrar a Mônica, sua ex-esposa, e tampouco tenho informações se deixou ou não descendentes.


Era muito querido e respeitava demais o Coordenador Artístico da Álamo na época, Líbero Miguel. Percebe-se que era frequentemente escalado nas dublagens desta casa em específico, mesmo após o falecimento do Líbero. Tudo indica que havia um bom relacionamento entre a casa e ele, e consequentemente com os diretores e dubladores da época. Fora dali, só tenho lembranças de um capítulo de Pica Pau, feito na BKS, onde um vilão teve a sua voz.


Amigos que trabalharam com ele disseram que era uma boa pessoa, mas tinha um temperamento enérgico. As vezes, sua personalidade oscilava entre o calmo e o agitado. Através dos registros de vozes que temos disponíveis, é perceptível a qualidade de sua interpretação, aliado ao timbre ímpar, impressa nos personagens que tiveram sua voz. Quem não se recorda das atitudes heróicas do líder do Esquadrão Relâmpago? E das maldades premeditadas do filho de Satan Goss?


Ricardo Medrado foi esse dublador. Marcou a infância - e consequentemente a vida - de quem foi criança nos anos 80, mostrando o poder e a responsabilidade de encarnar um herói, e ao mesmo tempo o outro lado, a personificação do demônio. E não é justamente isso que é preciso para ser um bom ator? Saber "passear" pelas nuances da interpretação?


Fica então eternizado a minha singela homenagem a este grande profissional da dublagem paulista, e o meu muito obrigado pelo trabalho que ele desempenhou durante sua carreira. Inúmeros momentos de alegria e diversão me foram proporcionados pelos seus personagens. Onde quer que esteja, desejo que esteja bem, Ricardo.

Ouça a voz de Ricardo Medrado clicando abaixo:

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Leonardo Alkmin, a voz do Nonoyama

Voltando a falar mais um pouco sobre o Esquadrão Especial Winspector, chegou a hora de apresentar aos fãs o dublador do personagem Nonoyâma: Leonardo Alkmin.

Nonoyâma era o hilário mecânico/ programador dos robôs da série: Biker e Highter. Futuramente, também desenvolveu o detetive miniatura Demitaz (Sergio Rufino - 1ª voz/ Paulo Porto - 2ª voz). Trabalhava em conjunto com o herói principal Lyúma/ Fire, e o comandante Masaki.

Este personagem fazia parte do elenco de apoio, da mesma forma que a Hissáe (Marta Volpiani) e o detetive Toragôro (César Leitão). Inúmeras vezes ajudou a equipe com seus feitos. Por outro lado, também pertencia ao núcleo cômico do seriado, frequentemente envolvendo-se em enrascadas por conta das atitudes imprevisíveis dos robôs.


A série teve uma boa versão brasileira, sob a direção do experiente Emerson Camargo, a voz original do National Kid. Vozes clássicas foram escaladas em diversos capítulos, como por exemplo o Amaury Costa, o robô que fazia anunciar os perigos ao menino Will Robinson da série Perdidos no Espaço. Mário Vilella, Maralise Tartarine e João de Ângelo são outros exemplos dissidentes da época da A.I.C. Por outro lado, também havia espaço para os novos nomes, que hoje consagraram-se no meio. Tânia Gaidarji, Paulo Porto, Fabio Moura e Fátima Noya fazem participações em vários episódios.

A captação de som dos estúdios da Marshmellow era muito boa, porém, em alguns capítulos, houve problemas com as M&E, e vários foram finalizados com barulhos de cenário totalmente fora de sincronia. No decorrer do seriado, algumas vozes também foram trocadas, fato que é muito difícil evitar por inúmeros motivos.


Alkmin começou a dublar no ano de 1990. Trilhou o mesmo caminho de inúmeros dubladores, nos estúdios Álamo, junto com Nair Silva. Em seguida, trabalhou nas diversas casas em atividade na época, como Sigma, Gota Mágica, Marshmellow e Mastersound. Outro nome que foi muito importante em sua carreira é o de Jorge Barcelos, o proprietário da Sigma.

Ao mesmo tempo, já cursava teatro na EAD/ECA/USP. Naturalmente, diversas vezes foi escalado também na Dublavideo, BKS e Gábia, dentre outros. Fez participações em muitos filmes, entre eles, A História de O. J. Simpson, onde dublou o protagonista quando jovem. Em séries, foi um dos principais de Stargate. Este seriado foi resultado de um filme de mesmo nome, que há alguns anos passou na TV Bandeirantes. No longa, o personagem teve a voz do Hermes Baroli.

Quando da exibição da série, sua voz era desconhecida por mim. Uma vez, falando com a Alessandra Araújo, ela comentou de lembrar que ele havia feito dublagens nesta época, e que poderia ser quem eu estava procurando. Dito e feito. Encontrei-o no Facebook, que confirmou, ouvindo um trecho da voz do personagem. 


Leonardo também trabalhou com produções de eventos, e desde 2003, parou de dublar. Além de ator, é escritor, tendo lançado duas obras. A mais recente, de nome "Tia Margarete", saiu no início de 2012.

Ouça abaixo a voz de Leonardo Alkmin na série Winspector:

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Conversa com Christina Rodrigues


Há exatos dois anos,  em julho de 2.011, aconteceu uma coisa diferente e inesperada na minha vida: junto com meu amigo Vitor Souza, tivemos o grande prazer de conhecer pessoalmente e almoçar com a Christina Rodrigues. Não há necessidade de apresentações, já que é uma atriz muito conhecida pelo público que acompanha dublagens, seja de séries, filmes, animes ou séries japonesas.

Foi um bate papo muito interessante, onde ela contou muita coisa que acompanhou em mais de 20 anos de carreira só na dublagem. Pra mim, que até então só a conhecia através da TV, foi um sentimento difícil de descrever, o de estar ali, ao lado dela, ouvindo aquela voz que há anos eu acompanho, falando diretamente comigo. Uma mistura de mágico com inacreditável.

Em momento nenhum soou como entrevista, até porque não havia papel, caneta, e muito menos pesquisa (fiquei sabendo que nos conheceríamos na sexta à noite, e nos encontramos no domingo). Aconteceu que, ao chegar em casa, sentei em frente ao micro e transcrevi a conversa, puxando pela memória tudo o que lembrava, e, respeitando o máximo da oralidade, criei este texto, e pedi autorização à ela para publicar para os inúmeros fãs da dublagem, e especialmente do seu trabalho, uma vez que falamos sobre vários assuntos legais. Sem mais delongas, segue o resultado do bate papo:


Quando você começou a carreira na dublagem? É possível lembrar o ano, quem foi o diretor, o estúdio e o personagem? 

Foi em 1985, na Álamo. Eu tinha ido até a empresa “me dublar” em um filme que fiz chamado Asa Branca – Um Sonho Brasileiro, cujo tema era futebol e contava com o Edson Celulari e a Ewa Wilma no elenco. Fiz o trabalho, sob a direção do Orlando Viggiani, e fui embora. Algum tempo depois, voltei no estúdio para gravar uma rádio-novela do Carlos Alberto Soffredini, e o Líbero Miguel, Coordenador Artístico na época, após as gravações, veio até mim e disse que achava que eu levava jeito para a dublagem. Perguntou se eu não queria ficar até depois do almoço (quando a área técnica voltava ao trabalho) pra fazer um teste. Neste intervalo, fiquei por lá e inclusive conheci o sr. Michael Stoll. Depois do almoço, gravei, contracenando com a Nair Silva, e saí. Algum tempo depois, no meu primeiro dia de trabalho como Administradora Executiva, dentro de uma empresa que fazia a produção de cenários (pertencente ao sr. Cyro Del Nero), recebo uma ligação do sr. Jacinto, que tomava conta do Depto. Financeiro da Álamo, dizendo que o proprietário queria que eu fosse trabalhar para ele, que me pagaria tanto, etc. Como havia começado a trabalhar naquela ocasião, agradeci e descartei a proposta. Passaram-se alguns minutos, e o telefone tocou novamente. De novo o Sr. Jacinto, insistindo. Repeti a minha posição, até porque o salário era bem mais baixo. O Sr. Cyro, cuja sala ficava ao lado, veio até mim e tocou no assunto, pois tinha ouvido a conversa, e nisso, outra vez o telefone tocou. Pela terceira vez, recusei, mas ouvi que “o seu Michael não estava acostumado a receber não como resposta", e que insistia que me queria como funcionária. Mantive minha posição. Então meu patrão, que conhecia o dono da Álamo - uma pessoa extremamente respeitada - me falou que se o Sr. Stoll achava que eu deveria trabalhar pra ele, que era melhor eu repensar, pois ele tinha um feeling gigantesco, e que poderia ser bom pra mim. Mesmo assim resisti e não fui. Passou um tempo e sofri um pequeno acidente, torcendo meu tornozelo. Depois, na rua, uma mulher com um carrinho de bebê passou por cima do meu pé, piorando a situação. Assim, fiquei impossibilitada de desempenhar meu ofício, e indiquei outra pessoa para o trabalho, e me afastei para me cuidar. Cerca de seis meses haviam se passado, eu já tinha me recuperado, e acabei lembrando da dublagem, e fui procurar a empresa. Desta vez, o seu Michael foi categórico, e disse que a proposta tinha sido aquela vez, e que agora, eu teria que passar por um estágio com o Líbero, e ele analisaria se eu estava apta ou não para trabalhar. Eu fui, me dediquei, ele me aprovou, e estou até hoje.

  
Como foi a época das séries japonesas “Tokusatsu”, iniciada em 1986 e finalizada em 1995? Havia testes para os personagens fixos ou simplesmente a escalação, baseado no conhecimento que o diretor tinha da capacidade de cada ator?

Foi exatamente aí que comecei. Depois de alguns meses de estágio somente assistindo dublagem, o Líbero achou que eu estava pronta e me escalou para algumas pontinhas no Jaspion e Changeman. Em seguida veio o Flashman, e ele já me colocou no meu primeiro papel fixo, a Lú/ Pink Flash. Depois fiz o Zillion. Até o final de 1989, o Coordenador era o Líbero, então ele decidia sobre as escalas. Ele sabia da capacidade e do talento de todos que ali trabalhavam, inclusive quando era hora de dar uma chance para algum iniciante. Foi uma época marcante, onde muita gente boa que ainda está por aí começou. No Flashman mesmo, eu e o Francisco Brêtas estávamos debutando, ao lado do Eduardo Camarão, Carlos Laranjeira e a Lucia Helena, que já dublavam há algum tempo.


Depois do sucesso como Pink Flash, vieram outros personagens eternizados pela sua voz, na sequência: várias pontas em Jiraiya, Machineman, Google V e Sharivan; Kênon em Jiban e Máya em Metalder; recorda-se da Kênon e da Maya?

Lembro que fizemos sim bastante coisa nesses seriados japoneses. Tinha muitas pontas, e personagens de um só capítulo, mas é claro que me recordo da Maya e da Kênon. Inclusive tem um fato curioso: Há algumas semanas (Nota: lembrando que esta conversa aconteceu há dois anos), a Dubrasil recebeu os dois últimos capítulos de Jiban pra dublar, pois parece que não foi feito na época, e me chamaram pra fazer a personagem novamente, 20 anos depois. Foi legal relembrar essa época, pois eu e a Alessandra Araújo gravávamos nossa participação junto com o saudoso João Paulo Ramalho. Minha voz mudou um pouco, ficou mais aguda porque parei de fumar, mas acho que vai ficar legal. Pena que eram apenas duas falas.

 
Você se lembra de algum fato curioso dos bastidores na época das gravações?

Sou péssima de memória, não consigo guardar muitos detalhes, e tudo acontecia com muita naturalidade. Ficávamos praticamente o dia todo dentro do estúdio, pois tinha muito trabalho. Assim, dava pra conhecer bem os colegas. Muita coisa legal e chata aconteceu dentro daquele prédio da Álamo. Mas é assim na vida da gente, nem tudo são coisas boas, mas são recordações. Lembro que o Líbero, na época do Flashman, costumava chamar o elenco para ir até um barzinho ali perto tomar umas cervejas e comer uns petiscos. Eu tinha outros compromissos e não dava pra ir, mas no dia seguinte, todos comentavam que tinha sido muito divertido.


Fale um pouco sobre Líbero Miguel e Carlos Laranjeira, profissionais brilhantes e que participavam frequentemente dos seriados, e que protagonizaram personagens ímpares durante suas carreiras.

Líbero era um dublador e diretor esplêndido. Rígido, mas sabia ser coerente com suas decisões e tomava conta com muito carinho de tudo o que dizia respeito ao seu trabalho. Sempre. Pena que faleceu cedo. Já o Laranjeira, era um rapaz lindo, sempre bronzeado (pois era de Santos), com olhos claros e um cabelo maravilhoso. Dublava como um anjo. Tinha uma voz doce, e era um gentleman. Cantava também. Fazia o seu trabalho da melhor forma possível e não gostava de ficar se intrometendo na vida alheia. Lembro que ele tinha uma mania: quando dublávamos juntos na bancada, ficava mexendo no meu dedo mindinho, dobrando-o o tempo todo. Tenho saudades dele.

E desde que começou a dublar você nunca parou? Nem desempenhou algum outro trabalho paralelo à arte?

No finzinho de 1990/ comecinho de 1991, eu parei por um tempo. Acho que foi logo que terminei o Metalder. Estava enjoada com alguns acontecimentos na minha vida e desanimei. Na verdade, também sou Astróloga, e sempre adorei isso. Nessa época, me dediquei a este trabalho, e atendia em casa, onde consegui uma clientela grande e fiel. Não queria nem mais ouvir falar em dublagem. Lá pelo começo de 1994, a Lucia Helena – cujo contato nunca perdemos - dublava bastante na Megassom, e começou a insistir para eu voltar a dublar, que achava que tinha espaço pra mim, e devagarzinho ela me seduziu. Fui gravar uma coisa aqui, outra ali, mas sem compromisso. E desta forma, continuava atendendo meus clientes. Gradativamente ia pintando mais e mais escalas, e quando vi, sem perceber, já estava de volta, só que meus clientes não queriam que eu os deixasse, e eu não conseguia conciliar as duas coisas, infelizmente. Tive que parar de consultar. Daí pra frente, só dublagem.


E sobre a Gota Mágica e a época dos Animes? Você fez trabalhos marcantes como a Sailor Marte e a Bulma. Fale um pouco sobre esse período. 

Essa época foi meio conturbada, pois houve uma grande greve no Rio e em SP. Depois que acabou, muita gente teve dificuldades para voltar ao trabalho, já que tudo ficou meio parado. Aos poucos o trabalho foi reaparecendo, e acabei tendo a oportunidade de dublar esses animes quando o Mario Lucio saiu da Marshmellow para montar a Gota Mágica, e encarregou o Gilberto Baroli com a direção das séries. Tive a honra de fazer a Raye/ Sailor Mars e a Bulma, mas confesso que nunca consegui acompanhar as séries depois de prontas. Lembro que era muito legal de fazer, o Dragon Ball eu gravava junto com a Noeli Santisteban (Goku) e nos divertíamos muito. Pra você ter uma idéia, uma vez, já perto dos anos 2.000, zapeando, eu achei um canal que estava passando o Dragon Ball. Pensei: “que legal, vou poder ver como ficou.” Eis que começa o anime e... não era minha voz. Era a Tânia Gaidarji. Estranhei, não entendi, mas tudo bem. Só um tempo depois que eu a encontrei na Centauro, e ela disse que estava fazendo na Álamo, e que não sabia que eu já tinha feito a personagem. Fato parecido aconteceu com a Sailor Moon R, na BKS.


E em nenhum dos dois casos você foi sequer contatada pra voltar nas personagens? 

Não. Nem sabia que tinha anime novo sendo dublado em SP. Depois que começou a passar, é que fui saber de tudo isso. E na época, eu não tinha Orkut nem nada, e uma amiga me disse que existia uma “Comunidade” em minha homenagem lá. Fiquei sem entender muito e não fui atrás de início. Depois de um tempo, entrei, sem ter muita noção do que estava fazendo. Vi e gostei. Criei um perfil e fui agradecer aos fãs, e de uma hora pra outra, eles começaram a entrar em contato comigo, falando sobre os meus trabalhos, e, na medida do possível, fui dando feed-back. Pelo mesmo motivo entrei no Facebook, e quando tenho tempo, acompanho o que acontece por lá. Surgiram entrevistas e matérias em revistas sobre a dublagem nesse período. Foi uma pena não terem feito sequer uma pesquisa a respeito do que já havia sido feito, até porque o Baroli sempre foi acessível e deveria se lembrar, mas respeito os novos profissionais. Inclusive, há algum tempo, fiquei sabendo que houve um site que proporcionou uma votação sobre as vozes das Sailors, não? Mas não acho que não deu em nada. (Nota: foi o portal SOS Sailor Moon Project, mas foi apenas uma pesquisa para tentar mostrar para a TOEI e seus representantes a importância da série no país, e quais vozes os fãs prefeririam numa eventual redublagem. A voz da Christina foi escolhida pelos fãs como a melhor para a Raye).


E sua formação? Fez Teatro? 

Formei-me na Escola de Arte Dramática da ECA/ USP, e inclusive o Flavio Dias era da minha turma. Dentre tantas peças, fiz uma de nome Chapéu, Chapelão & Cia., e fui premiada por ela. Mas houve um equívoco por parte da produção, e outra moça do elenco - que tinha o mesmo sobrenome - levou o prêmio, e não quiseram fazer a retratação. Isso foi há bastante tempo, e depois fiz inúmeras coisas, viajei muito, enfim. Creio que a última peça que fiz foi uma do Flavio e do Paulo Guarnieri. Depois desisti de fazer teatro. Encerrei este ciclo da minha vida. Fico só com a dublagem mesmo, que é o que eu amo. 
 
O que tem feito atualmente? Seja na dublagem, direção ou outros projetos? 

Tenho dublado bastante, e dei uma parada com a direção. Sou muito focada e dedicada quando pego alguma obra pra dirigir, e me envolvo demais, o que gera um cansaço muito grande. Dirigi por um bom tempo na Centauro, em seguida na Lexx, e depois, até cerca de um ano atrás, na Sigma. Já dublar, isso eu faço em muitos estúdios. Uma das coisas que gostei de fazer é o Lie to Me. Faço também a Candice Olson em dois programas, o Design Divino (na Vox Mundi) e O Estilo de Candice (na DPN). Ambos passam na Discovery Home & Health, em vários capítulos diários. Fiz uma série chamada Dance Moms (exibida no canal BIO) e S.O.S Babá, junto da Gessy Fonseca e Alna Ferreira, que vai ao ar pelo Viva. Adoro trabalhar com a voz.

 
Sou eternamente grato a esta pessoa extremamente atenciosa e gentil que é a Christina, e também ao amigo "Vitinho", que fotografou e foi peça importante no decorrer da conversa, com seus conhecimentos. Desejo-lhes sucesso, sempre.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

30 anos da Rede Manchete

Há cerca de três semanas, recebi esta preciosidade gentilmente cedida pelo amigo carioca Cláudio Roberto, que teve o privilégio de estar presente na noite de lançamento deste maravilhoso documentário em comemoração pelos 30 anos da Rede Manchete de televisão, caso ela ainda estivesse no ar.

A data comemorativa deu-se em 05/06/2013, e alguns estudantes de jornalismo (e fãs órfãos) da UFRJ assumiram a empreitada de fazer um trabalho incomensurável como este, e contar em cerca de uma hora e vinte minutos de produção, boa parte de tudo aquilo que significou a TV idealizada e presidida pelo grande ícone chamado Sr. Adolpho Bloch.

Não há muito o que adentrar no material, pois logo isso vai ser disseminado pela internet afora, e todos os simpatizantes terão acesso. Então, não é meu intuito descrever com palavras tudo aquilo que foi apresentado. Mas, pelo menos pra mim, a Manchete foi algo mais. E por este motivo, sinto-me na obrigação de tecer alguns comentários, pois, além de marcar época para uma geração inteira, a rede, por intermédio de sua programação, em muitos aspectos, norteou minha vida.


É fato que foi uma empresa privada, e como tal, o mínimo que precisava ser feito era gerar lucro. E, para tal fim, o caminho foi tortuoso, ora com altos índices de audiência e programação equiparada à gigantesca e inatingível Rede Globo, ora amargando reprises de novelas e poucos capítulos de desenhos ou séries, sem esquecer da venda de horários para Igrejas ou produções independentes, como as incansáveis ofertas do Grupo Imagem. Também não é novidade que o conglomerado acabou da pior forma possível, deixando dívidas milionárias contra o governo e ex-funcionários e colaboradores. Mas a mim cabe apenas citar aquilo que vivi diretamente, por intermédio da tela da TV.

Quando a emissora estreou, eu tinha apenas dois anos. Então, não acompanhei tudo, mas comecei justamente no final de 1987/ começo de 1988, quando as séries Jaspion e Changeman causaram um estrondo inigualável, tendo suas aventuras espalhadas por todo o país com sinal emitido diretamente da Rua do Rússel. O meu fascínio foi tão grande que até abandonei os desenhos He-Man e Thundercats, que tanto adorava da Globo para migrar para a concorrente. Isso também teve o seu lado negativo, pois acabei perdendo muitas coisas legais em outros canais, como por exemplo a exibição do clássico Zillion.


Flashman, Jiraiya e Jiban foram as sucessoras, que agradaram de forma ímpar e a altura das antecessoras. Assim foi até 1991, quando as novas séries (e últimas deste período) estrearam: Cybercop, Maskman, Spielvan e Black Kamen Rider. Em 1992, confesso que dei uma enjoada, e abandonei esse nicho. Não lembro o que via na tv nesse hiato, mas, em 1994, o novo "Jiban" (Winspector) acendeu novamente a chama do fã de tokusatsu que chegou quase a se apagar. E, já em seguida, Os Cavaleiros do Zodíaco. Aí a Manchete me "comprou" novamente. Desta vez de "papel passado". E assim foi até o fim, o último dia, eu lá, torcendo para que aquele símbolo clássico da letra M, "de lado" na tela da TV, com um relógio no canto inferior direito não desaparecesse. Mas desapareceu. E com ele, uma época saudosa e inalcançável da minha vida.

Também em 1990, quando eu tinha apenas nove anos, meus pais renderam-se ao fenômeno Pantanal. Lembro de muitas vezes ter ficado até mais tarde na sala, acompanhando aquelas imagens lindas do estado do Mato Grosso. E no ano seguinte, a reprise direta de A História de Ana Raio e Zé Trovão, por volta das 18:00 hs eu assisti na íntegra. Saia voando da escola (o sinal batia às 17:50) e corria feito doido pra não perder sequer a abertura. A título de curiosidade, a tal escola ficava há sete quarteirões de minha casa.

Mas, perto do fim, eu tive uma outra felicidade indescritível. Foi ao ver esta chamada:



Há anos eu procurava de todas as formas possíveis um jeito de rever (ou ter) a série do Jiraiya completa. Lembrava-me dos tempos áureos, onde esta série estava alocada num lugar muito bom dentro da minha memória, mas não havia nada. Alugava sempre as mesmas três fitas que tinha na locadora daqui: A Emboscada (minha preferida), As Sete Sombras e a Espada de Shinguen. Peguei o telefone da Santa Alice - a representante da distribuidora Top Tape na capital paulista -  que havia no encarte da VHS, mas a empresa já não existia mais. Um amigo da família passou em frente ao endereço que constava no mesmo encarte, e nada. Nenhuma pista. Mas algo dentro de mim dizia pra eu não perder as esperanças. Então, quando vi aquele comercial, a emoção tomou conta.


É claro que houveram inúmeros fatores que prejudicaram e fizeram com que o sonho não terminasse da melhor forma possível, mas não tenho do que reclamar, apenas do que arrepender: de não ter gravado em SP. Os 10 primeiros capítulos foram repetidos a exaustão, e quando soltavam novos, cerca de mais uns 10, tome-lhe reprise de novo. Até que chegaram ao cúmulo de passar um lote, e, quando ia ao ar o último do lote, como por exemplo o 34, no dia seguinte passavam o 35, e voltava desde o primeiro. Isto era uma agressão ao telespectador, digno de fazer um B.O. Na época foi sofrido, mas hoje deixa saudades. E foi uma pena maior ainda terem exibidos apenas 38 episódios de um total de 50. Porém, mais adiante, com a propagação da internet, pude ter em DVD essa série completa.


Outra felicidade difícil de explicar com palavras foi ver em 2009 o SBT reprisar o Pantanal. E alguns anos depois, a Ana Raio e Zé Trovão. Acompanhei todas de cabo a rabo. Este foi o último contato direto que tive com produções do passado da Rede Manchete.


Um pouco antes do lançamento do documentário, eu havia acabado de ler o livro do Elmo Francfort, que foi disponibilizado gratuitamente pela Imprensa Oficial neste link. Outro trabalho de mestre que, de mãos dadas à produção audiovisual, narram um percentual considerável da história da TV Manchete do ponto de vista de quem por lá passou. "Causos", curiosidades, detalhes técnicos, datas, tudo muito bem pesquisado e escrito.


E, pra fechar com chave de ouro minha singela homenagem à menina dos olhos do Sr. Adolpho, há alguns dias foi publicado no facebook um link contendo um folder de apresentação, pela empresa que está terminando a restauração e repaginação do edifício sede das empresas BLOCH. Clique aqui para acessar. Pouparam grande parte da idéia original do Sr. Oscar Niemeyer - não havia motivos de não o fazerem - e isso me deixa muito feliz ao saber que pelo menos o local onde esta fábrica de sonhos denominada Rede Manchete foi gerada, está sendo conservado e preservado para o futuro. A história é algo muito importante. O que acontece no presente é reflexo total dos fatos do passado. Talvez amanhã esteja funcionando ali uma empresa que nada tem a ver com o que aquela construção abrigou desde sua inauguração, mas em contra partida não vai ser demolida ou ficar abandonada, acabando-se aos poucos.


E, neste último parágrafo, não posso deixar de citar as inúmeras incertezas e mistérios que rondam o acervo da extinta emissora. Chegam até mim os mais diversos tipos de informações, de forma aleatória e teórica, porém, a certeza absoluta nunca vêm. O Acervo foi leiloado, e quem arrematou os móveis doou as fitas para a TV Cultura, conforme esta matéria? Este acervo está realmente lá e catalogado? O Governo, inicialmente não tinha interesse em ajudar a resolver o imbróglio sobre os direitos autorais, e de uma hora pra outra, resolveu se mexer, e tudo foi (ou será) encaminhado para a Cinemateca digitalizar? Mas a Cinemateca não estava passando por dificuldades? Então, como existem materiais oficiais da emissora sendo vendidos no Mercado Livre? E os materiais de terceiros que não puderam ser retirados da emissora nos últimos anos por conta de uma ordem judicial? Será feita digitalização desse material também? Mistérios e mais mistérios, coisa muito comum neste país. Embora muita coisa eu já tenha pesquisado, só me resta, assim como a outros milhares de fãs, torcer. E esta é uma posição que particularmente não me agrada.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Tereza Marinho, a voz da Junko

Continuando minhas publicações, apresento agora a Tereza Marinho, dubladora da policial feminina Junko, da série Winspector.

Esta série, já citada em outra postagem, estreou na Rede Manchete em meados de 1994, numa época onde as crianças - e também os adolescentes - já estavam cansados das reprises exaustivas de Jaspion, Changeman e Flashman nas tardes da TV Record.

Winspector chegou alguns meses antes do mega estrondo Cavaleiros do Zodíaco, e por ter sido dublada no mesmo estúdio (a primeira fase do anime foi feita ainda na Marshmellow, mas com o nome da nova empresa que estava surgindo: Gota Mágica) e praticamente ao mesmo tempo, tiveram muitos dubladores em comum, como por exemplo Marcelo Campos e Hermes Baroli.



Quem pôde ver esse novo seriado japonês, já de cara deparou-se com uma "evolução" em relação aos que passavam na Record ("herança" da TV Manchete), uma vez que aqueles foram filmados em 1985/86 respectivamente. Já o Esquadrão Especial, fora gravado/ exibido no Japão no ano de 1990. Haviam mudanças significativas no enredo, imagem e narrativa das histórias.

A equipe de subordinados do comandante Masaki (Daoiz Cabezudo), Fire (Marcelo Campos), Biker (Hermes Baroli), Highter (Affonso Amajones) e Junko (Tereza Marinho), fugia um pouco do clichê, e não enfrentava seres de outro planeta - salvo numa história específica - ou monstros mutantes. Tratava-se de uma espécie de "Corpo de Bombeiros" de alta tecnologia, com trajes diferenciados, lidando com situações perigosas e inusitadas do cotidiano dos humanos.


Tereza começou na dublagem no início dos anos 90, mais precisamente em 1992, época em que Nair Silva era Coordenadora Artística da lendária Álamo. Outros nomes que deram início nas atividades nesta arte no mesmo período e local, foram os já citados Marcelo Campos e também o Carlos Falat. Outra pessoa importante no meio e que também norteou seu início de carreira, foi Jorge Barcellos, a voz clássica do Égon, dos filmes/ desenho animado Caça Fantasmas. E justamente o Falat, foi aquele que me ajudou a reconhecer a voz da Marinho, e também apresentou-me o seu perfil nas redes sociais, ainda na época do Orkut.

Após o ponta-pé inicial, rapidamente começou a trabalhar em outros estúdios conhecidos, como Sigma, e Marshmellow, e mais pra frente BKS, Centauro, Tempo Filmes, Clone e Windstar, dentre outros.

Formou-se em teatro pela CPT (Centro de Pesquisa Teatral), e por lá encenou diversas peças como Macunaíma e Rosa de Cabriuna. Voltado ao público infantil, fez Trenzinho Vila Lobos e A Cuca Fofa de Tarsila.

Alguns exemplos de papéis na dublagem: fez a voz da Cleópatra em determinada produção, filmes como Don Juan de Marco (fazendo a mãe do protagonista), inúmeros documentários para a Discovery, vários desenhos e séries, enfim. Paralelo a dublagem, fazia também locuções comerciais e spots de rádio. Por determinada época, diminuiu um pouco o ritmo na arte, dedicando-se ao estudo de traduções Ibero-Americana, e também passou seis meses no Canadá, tendo como atividade a produção cultural. Ultimamente, tem visitado as casas de dublagem e vem aumentando o ritmo de trabalho a cada dia.

Abaixo, ouça a voz da Tereza Marinho dublando a série Winspector:

sábado, 11 de maio de 2013

Conheçam Marcelo Coutinho

Durante minhas pesquisas sobre dublagem em seriados japoneses, mais precisamente na série Winspector de 1994, feita na Windstar (estúdio da Marshmellow locado para a realização desta versão brasileira) e dirigida pelo Emerson Camargo, deparei-me com uma voz que desconhecia.

Essa voz tinha uma entonação forte, e uma leitura muito bonita, e foi escalado por diversas vezes no decorrer da trama. O personagem de maior destaque, um vilão, foi o Sabúro Muráta, do capítulo duplo "O Homem Cópia".

Também havia ouvido este mesmo dublador em animes do começo dos anos 90, na Dublavídeo, como em Fatal Fury e O Espadachim Ninja (outrora chamado de "Espadas dos Ninjas"). Inclusive, eu lembrava desta voz em produções dos anos 80, quando a TVS fazia dublagens. Tirei uma amostra de áudio e comecei a busca.

O primeiro contato foi com a Tânia Gaidarji. Ela ouviu e acertou na primeira. Vale lembrar que já há algum tempo, eu tinha conversado como Emerson Caperbat a respeito do seu início na dublagem, ele tinha citado o nome do Coutinho. No entanto, nesta época, era apenas um nome sem voz para meus registros. Em seguida, comecei a procurar meios de como saber algo a seu respeito, já que no Google não havia nada. Raquel Marinho me contou que começou a dublar com  ele, que foi diretor na Dublavídeo por vários anos, e Carlos Campanile me disse que ele apresentou o Siga Bem Caminhoneiro, nas manhãs de domingo, no SBT, em determinada época. Era o que eu precisava pra encontrar um vídeo no Youtube. Créditos ao usuário feneme.

Por fim, procurei saber sobre seu paradeiro atual, já que há anos não ouvia mais a voz dele. Foi então que fiquei sabendo que havia se afastado do meio artístico por motivo de saúde. Relendo o livro do Nelson Machado, o Versão Brasileira, havia uma citação ao estúdio Timecode, que era do Coutinho. Então, falei com a Cecília Lemes, que dubla em todas as casas de São Paulo, e ela me disse que estes estúdios estavam locados para o Raul Schlosser, onde funcionava a Cooperativa Uniarthe.

Há duas semanas, o Raul foi o entrevistado do programa Papo com o Machado, e eu enviei uma pergunta a respeito do Coutinho, pois não se sabia nem mesmo se ele havia falecido ou não. E foi onde ele respondeu, dizendo que ele sofreu dois infartos que deixaram sequelas, impedindo-o de trabalhar. Atualmente, mora em Sorocaba-SP, e pelas complicações do ocorrido, tem que viajar para a capital duas vezes por semana, por motivo de tratamento, com sua esposa Olga.

Infelizmente não pude encontrar mais informações sobre este excelente profissional, que por tantos anos nos brindou com trabalhos diferenciados em dublagem e direção. Vale lembrar que, curiosamente, existe um homônimo no Rio de Janeiro, que também é dublador.

Fica registrado neste espaço uma singela homenagem a este grande ator que, até então, pelo que pesquisei, tinha seu nome desconhecido pelos inúmeros fãs da dublagem paulista.

Aqui, um vídeo de seu trabalho no Siga Bem Caminhoneiro. Não foi possível precisar a data:



Aqui, um trecho de sua dublagem na série Winspector, de 1994:



Desejo tudo de bom para o Marcelo Coutinho, e que sua família tenha forças e saúde para cuidar dele.