Não é novidade pra ninguém que a Focus Filmes deixou a cargo da Central Dubrasil a dublagem dos dois últimos capítulos da série Policial de Aço Jiban.
O segundo box, contendo os capítulos 27 ~ 52 estava com data prevista de lançamento para o dia 24/08/2011, mas algumas pessoas que pegaram na pré-venda já receberam seus boxes. Eu fui um deles, como você pôde ver aqui. Para sanar um pouco da curiosidade de todos os fãs da série, consegui uma entrevista exclusiva com a Zodja Pereira, Proprietária e Diretora do Estúdio, e que ao lado de Hermes Baroli, estiveram a frente deste projeto minucioso.
Havia (e ainda há, por parte de quem não viu) muita expectativa por parte dos fãs, pois todos queríamos saber se os dubladores clássicos voltariam a fazer seus personagens, como seria a seleção para as novas vozes, as adaptações, enfim, tudo.
Zodja, gentilmente foi cedendo as respostas às tantas perguntas vinculadas à esta versão, e autorizou a publicação desta entrevista. Falou sobre literalmente tudo, abertamente, sem se esquivar de nenhuma pergunta. Então, sem mais delongas, proporciono aos colegas este material inédito:
Trabalhamos com a Focus Filmes há algum tempo. Lost Canvas foi um sucesso dessa parceria, principalmente por mesclar os elencos do Rio de Janeiro e São Paulo. E há alguns meses, fizemos a dublagem de dois tokusatsu’s para a empresa: Ultraman – A Batalha do Hiper-espaço e Ultraman Tiga e Dyna – Os Guerreiros da Estrela da Luz. Também num deles, respeitando as escalações anteriores, contamos com uma dublagem mista entre Rio/ SP. Em função desse cuidado e respeito com o publico, a Focus solicitou que fizéssemos a dublagem desses dois capítulos que faltavam do Jiban.
Quanto tempo durou as gravações?
Cerca de duas semanas, entre preparação, escalação, gravação e mixagem.
Essa série foi dublada na Álamo, em 1990, e não teve o seu final exibido na extinta Rede Manchete. Por este motivo, foi necessário refazer apenas os dois capítulos finais. O trabalho feito no passado foi levado em consideração pela direção atual?
Sem dúvida, buscamos ser o mais fiel possível, afinal foi um trabalho que até hoje tem muitos aficionados e esse público tinha que ser respeitado, inclusive nas escalações dos personagens. Conseguimos gravar com quase todo o elenco original. Houve também contato com uma pessoa séria e competente a fim de montar esse quebra cabeças da dublagem de outrora e dar continuidade ao projeto. Escrevi até um artigo sobre o assunto e coloquei no site da Dubrasil: http://www.centraldubrasil.com.br/site/
“Quase todos”? Poderia dizer quem ficou de fora?
Apesar da nossa insistência, a Márcia Gomes não pôde fazer a Madogárbo. Ela ficou muito triste, mas está impossibilitada de gravar já há algum tempo. Inclusive, quando refizemos um filme dos Cavaleiros, ela também não dublou a Êiri/ Deusa Éris. Atualmente apenas dirige na BKS. Acreditamos que muito em breve ouviremos a voz da nossa querida Márcia de volta na dublagem.
E quem dublou a vilã no capítulo 51?
Foi um grande desafio. Levamos em consideração o trabalho da Márcia, analisamos a personagem, o timbre de voz e a idade dela atualmente pra compor a vilã, e eu optei por fazê-la, já que estamos na mesma faixa etária. Fiz com muito carinho e espero ter chegado bem próxima do que havia sido criado pela Márcia. Fiz também a Múgui, aquele bichinho de pelúcia que ela dublava.
Falando sobre os demais dubladores que tinham personagens fixos no seriado, então conseguiram contatá-los para dublar?
Sim, foi outro desafio, mas era muito importante manter as vozes originais. Não podíamos, de uma hora pra outra, simplesmente trocar todo mundo. A distribuidora não queria e os fãs também não gostariam. Vale lembrar que existe uma diferença no timbre das vozes, afinal estamos todos cerca de 20 anos mais velhos. Mas achei que o resultado ficou bem legal.
E, por favor, poderia dizer quem são?
Lucia Helena voltou a fazer a Yôko, Francisco Brêtas o Seishí, Mauro Eduardo o Halley, etc.
Havia um dublador, o Robson Raga, que fez trabalhos em dublagem somente naquela época. Ele tinha um personagem importante na série. Vocês conseguiram contatá-lo para dublar também?
Sim, também com a ajuda de um amigo nosso, conseguimos localizar o Raga, que gravou o Yanaguêda.
E os outros personagens fixos, que nesses dois capítulos tiveram apenas uma ou outra fala, também foram escalados?
Todos. São grandes profissionais, que hoje são muito requisitados pelas casas paulistas, e alguns, inclusive, são diretores e até proprietários de estúdio, mas ao nosso convite, vieram dublar. São eles:
João Francisco Garcia – Koíti (pai da Ayúmi); Ivete Jayme – Shizúi (mãe da Ayúmi); Alessandra Araújo - Marshall; Christina Rodrigues - Kênnon; Letícia Quinto - Secretária Mitíyo.
Infelizmente, é sabido que 4 das vozes de personagens principais não puderam retornar nos seus personagens. Como fizeram para substituí-los?
Realmente, o Carlos Alberto Amaral, o João Paulo Ramalho e o Carlos Laranjeira já faleceram. A Rosana Garcia não mora mais no Brasil. Tivemos que substituí-los, analisando as vozes que temos disponível na atualidade e o tipo dos personagens.
E como ficou?
Pra narrar, escalamos o Gilberto Rocha Jr. que vem fazendo um ótimo trabalho com Cavaleiros/ Lost Canvas, e teve a humildade de buscar se aproximar da interpretação do Carlos Alberto. Já na Ayúmi, levamos em consideração o que já tinha sido feito, e é nítido que ela era dublada por uma mulher na época, e não por uma criança – prática que nem existe mais hoje em dia. Então escalamos a Luciana Baroli, cujo timbre era o que mais se aproximava do que a Rosana tinha em 1990. O Jean Marrie, quem fez foi o César Emilio, que além de ter uma voz próxima da do João Paulo, buscou também acompanhá-lo na interpretação. O Jiban era o maior desafio, afinal é o grande herói, e o Carlos Laranjeira tem um público apaixonado. Pesquisamos muito, ouvimos muitas vozes e chegamos a um impasse; devíamos optar pela jovialidade ou pelo timbre mais aproximado? Fizemos então uma enquete no site da Dubrasil.
Vi pessoas reclamando no Orkut e afins, dizendo que queriam mais vozes nos testes além daquelas disponibilizadas no site. Você tem algo a declarar?
O que acontece é que o publico não sabe dos trâmites que levam à determinada atitude. O tempo era escasso, a distribuidora queria esse trabalho artesanal para “ontem”, pois também tinham prazos a cumprir. Queríamos ter tido mais tempo pra fazer mais testes... e por isso optamos pela votação popular. Cheguei a conversar com fãs pelo telefone e responder e-mails, para explicar parte do processo.
Houve alguns comentários dizendo que a enquete teria sido burlada, essa informação procede?
Veja bem, a lisura e a seriedade são marcas da DUBRASIL. Colocamos no ar e deixamos por 72h para votação. Pusemos 2 vozes: Uma era o Fabio Campos, e a outra o Figueira Junior. Acontece que as enquetes, de uma hora pra outra, alternavam os resultados. Um dia antes de terminar, ficamos sabendo que havia um grupo tentando manipular o resultado, votando o tempo todo. E como você bem sabe, quando o assunto é internet, não tem como dizer que foi fulano ou beltrano. Mas no final creio que deu tudo certo, e venceu o preferido do público, o Figueira Jr.
E como foi a gravação com o Figueira?
Tranquila, ele é um bom profissional, já conhecia a série, e conheceu o Carlos Laranjeira. Juntos, direção e ator, baseados na interpretação do Laranjeira, fomos recriando o Jiban. Particularmente, acho que o resultado ficou muito bom, bem próximo do original.
E sobre a tradução?
Ficou a cargo do Marcelo Del Greco. Ele nos mandou os scripts, que foi revisado por alguém que acompanhou todo o trabalho, a pedido da Focus. É óbvio que quem for assistir vai perceber que esses capítulos tem uma versão diferente, mas o intuito é que, assistindo, percebam que tomamos todos os cuidados possíveis pra não destoar dos anteriores.
A respeito da qualidade sonora, poderia nos dizer algo? Afinal, 20 anos depois, com os novos equipamentos digitais, o resultado deve ter ficado bárbaro.
Aí entra outro parêntese. É nítido que tudo melhorou, tanto no assunto tecnologia quanto na interpretação dos atores, que estão mais maduros e talentosos. Mas, além disso, a distribuidora não conseguiu importar a tempo as M&E’s, as músicas e efeitos usadas para mixar com as vozes na dublagem. Outra vez tivemos que arregaçar as mangas e buscar resolver essa questão. Nossos técnicos de som, Guilherme Borges e Fabio Campos, trabalharam com afinco em cima deste projeto, inclusive pesquisando na Internet. Precisávamos de muitas músicas e alguns sons característicos da série pra montar essa trilha. Mais uma vez contamos com a ajuda de um colecionador, que cedeu praticamente todas as músicas de fundo (BGM’s) da série. Pra você ter idéia de como foi corrido, o Afonso Fucci tinha planos de fazer um Making of dessa dublagem pra colocar como extra nos DVD’s, mas não houve tempo, infelizmente.
Então foi um quebra-cabeças?
Literalmente. Fiquei sabendo que a trilha original desta série é meio conturbada, pois parece que usa também músicas de outros seriados mais antigos. Mas, analisando o resultado final, acredito que os consumidores vão gostar. Usamos de todos os meios disponíveis e possíveis para fazer um trabalho primoroso, desde a escalação e gravação até a mixagem. Foi um desafio muito grande.
Deixe um recado para os fãs da série e da Dubrasil!
A DUBRASIL tem um compromisso com a qualidade do que faz. Esse compromisso advém do respeito que temos pelo nosso trabalho e, particularmente, pelo publico. Agradecemos cada voto dado na Internet, e a cada palavra de estímulo e apoio que recebemos. Esse trabalho foi feito para que os verdadeiros fãs do JIBAN pudessem guardar pra sempre a serie completa. Esse trabalho artesanal e cuidadoso é o nosso presente. Esperamos que vocês gostem.