sábado, 6 de fevereiro de 2016

Pedro Américo, a voz do Kabukinóide

É com muita satisfação que trago mais uma revelação, a respeito de outro dublador que fez trabalhos nas séries japonesas nos anos 80. A descoberta desta vez, é o ator e comediante Pedro Américo

As pesquisas a respeito desta voz deram início no ano de 2009, quando revi a série Policial de Aço Jiban, feita nos tradicionais estúdios da Álamo, sob direção da Nair Silva. Inicialmente dublada em dois lotes - o primeiro no segundo semestre de 1989 e o restante no primeiro semestre de 1990 - teve sua exibição pela Rede Manchete e saiu em fitas VHS pela distribuidora Top Tape.


Exatamente nos capítulos 30 (O Misterioso Ataque ao Ator) e 31 (A Batalha Ninja), apareciam dois Bionóides com uma voz diferente das mais comuns daquele período. E era nítido que o trabalho não era feito por um iniciante, porém, foi uma interpretação que não encontrei em mais nenhum outro trabalho, em nenhuma outra série. Mesmo assim, sabia que era um nome importante e que deveria ser pesquisado.


O monstro Kabukinóide tinha uma entonação cômica, uma vez que o personagem é derivado das traducionais peças do teatro Kabuki, amplamente conhecidas no Japão. O jeito desregrado de falar dificultava a pesquisa, pois tentar descobrir o dono da voz de uma dublagem através de um falsete é um trabalho praticamente impossível. Mas em determinado trecho, a criatura fica de lado e se transforma num ser humano, o que faz com que a voz seja a "padrão" do ator. Mas isso não facilitou em nada o meu trabalho.


No episódio seguinte, o monstro Shinobinóide claramente tinha a mesma voz, porém desta vez mais rasgada, o que criava um terceiro padrão para adotar na pesquisa. E este em nenhum momento usava a voz "normal" do dublador, afim de aumentar a minha amostra de material sonoro. Sabia que esta empreitada seria árdua.

Como de praxe, contatei a diretora e muitos outros dubladores ativos naquele período, tentando saber se alguém recordava do dono da voz. Como eu imaginava, passados 20 anos, ninguém conseguiu ligar o nome da voz à pessoa. Após algumas semanas de pesquisas, fui obrigado a arquivar (mas não desistir) temporariamente este trabalho.

Passados 5 anos, o Mauro Eduardo Lima fez uma publicação em seu mural no Facebook, mencionando o nome de vários dubladores que há muito tempo já não estavam entre nós. Eu conhecia e tinha catalogado o trabalho de todos os citados, com exceção de um certo "Pedro Américo" . Indaguei inbox sobre esse ator, e obtive a seguinte resposta:


De posse dessa informação, retomei a pesquisa. Encontrei os nomes de Leda Figueiró, Zayra Zordan, Marcos Lander e Fabio Villalonga como os demais integrantes do programa do palhaço símbolo do atual SBT. Contatei os dois que estão na ativa (Figueiró e Lander são falecidos), mas as informações eram desvirtuadas, e não consegui a confirmação de qual das inúmeras vozes que tenho em meu acervo poderia pertencer ao Américo.

Eis que certo dia, não me recordo por intermédio de quem, aparece em minha linha do tempo um vídeo compartilhado de um trecho do programa do BOZO, no qual o Villalonga e o GIBI apareciam, e a moça (dona da postagem) se referia ao terceiro ator do vídeo como "pai". Nesta hora, percebi que era o momento de desvendar o mistério. Prontamente contatei a Julia Oliveira, e iniciamos uma conversa. 


Curiosamente ela também fez um curso de dublagem na Álamo nos anos 80, sob a tutela de Líbero Miguel e Ézio Ramos, e sua mãe havia trabalhado na Odil Fonobrasil. A veia artística estava no sangue da família. Mas infelizmente, até o momento, não consegui identificar a sua voz em algum trabalho da época.

Pai e filha, nos anos 70.

Pedro Américo Rodrigues Ferreira era natural do Ceará, onde cursou a Universidade Federal de Artes Cênicas naquele estado, e fazia parte da Companhia de Artes Dramáticas e Comédias. Nos anos 80, mudou-se para o Rio de Janeiro, afim de trabalhar com Os Trapalhões. O mundo girou, e este foi parar em São Paulo, sendo um dos primeiros funcionários contratados da emissora de Silvio Santos. Além das outras ocupações, também era radialista. Nascido em 1950, faleceu em 14/09/92, por conta de uma tuberculose, acarretada pelo tabagismo.

Sua filha diz que ele fez muitas dublagens na carreira, informação esta confirmada pelo texto do Mauro Eduardo, o que abre um grande leque para procurar mais trabalhos desse profissional nas minhas pesquisas focadas nos anos 80. Me contou inclusive que ele havia dublado no seriado Punky, que o SBT reprisou há alguns meses, mas a série foi tirada do ar antes de qualquer participação do Américo.

Ouça os trechos dos trabalhos dele na série do Jiban, clicando abaixo:



e

4 comentários:

Anônimo disse...

Ivan, tem como você fazer uma página sobre o Aníbal Munhoz? Não se acha nada sobre ele, nem entrevistas ou fotografias.

Miriam Ficher esteve em meados dos anos 80 em SP para fazer teatro:

https://www.youtube.com/watch?v=8jDecuF7xHQ

https://www.youtube.com/watch?v=-hxoou7KQ80

Tem como ver se ela fez algo em dublagem nessa época?

Rodrigo Lombardi trabalhou na Álamo nos anos 80:

https://www.youtube.com/watch?v=AJOTxYuymRQ

Tem como ver os personagens que ele fez?

Se puder fazer estas pesquisas, agradeço desde já! Um abraço.

Anônimo disse...

“Quero ser Dublador”, o primeiro reality show nacional que apresenta a competição entre aspirantes a dublagem profissional em busca de realiza o sonho de ser dublador. Projeto pioneiro, que apresenta pela primeira vez esse sobre o processo de formação de novos dubladores. O programa é conduzido por Hermes Baroli, conhecido por dublar o Seiya em ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’ e com Guilherme Marques e Alex Minei como jurados. Participações de Márcio Seixas, Mabel Cézar, Élcio Sodré, Nestor Chiesse, Raquel Marinho.
https://www.youtube.com/watch?v=MetOXeXpMEw

Unknown disse...

Esse Pedro Américo é meu tio, quando eu criança assistia ele no Programa do Bozo, SBT. Um excelente humorista que nos deixou muito cedo.

Leila Rodrigues disse...

Pedro Américo era meu tio. Feliz demais pela matéria!