quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conheçam Jose Carlos Guerra

Um dos nomes mais difíceis de decifrar desde que iniciei minha pesquisa sobre dublagem foi este. Um timbre de voz forte, que muitas vezes dava vida a vilões e monstros nas séries japonesas, mas que até então ninguém parecia lembrar-se deste dublador. O que aconteceu foi o seguinte: Ele deixou a arte no final dos anos 80, permanecendo por mais de 20 anos sem dublar. Isto ocorreu em 1987, já depois que a dublagem do trio inicial de séries trazidas pela Everest Vídeo (Jaspion, Changeman e Dolbuck) tinha sido finalizada. Por este motivo, em nenhuma outra produção a partir de Flashman ouvimos a voz do Guerra. Mas e para descobrir esse nome tão importante que deixava uma série de interrogações nos meus casts de dublagem?

A idéia foi editar alguns trechos de áudio com várias inflexões do ator e começar a indagar alguns profissionais da época, torcendo para que algum deles finalmente me desse a resposta tão desejada. Meus primeiros contatos foram Nair Silva, Carlos Campanile, Christina Rodrigues, Zodja Pereira, Nelson Machado, Mauro de Almeida, dentre outros. De início, ninguém conseguiu se lembrar, pois 20 anos são 20 anos, ainda mais quando a pessoa sai do convívio diário dos demais, a tendência é que ocorra um lapso na memória. O tempo foi passando, e num segundo contato, por uma dublagem com uma interpretação mais “limpa”, o Campanile palpitou, sem ter certeza, que a voz poderia ser do José Carlos, que há 20 anos ninguém tinha notícia de seu paradeiro. Novamente saí a busca, desta vez com um nome (o que facilita muito) e refiz os mesmos contatos. Todos diziam que poderia ser, mas não tinham como dar certeza absoluta. Eis que a Zodja tomou a iniciativa ousada de contatar a Álamo, e conseguiu confirmar este nome num cast da série Jaspion, que a empresa tinha guardado desde aquela época. Estava lá, “Guerra”, o que sanou de vez a dúvida. Mas e então? O que houve com ele? Por que teria abandonado o meio artístico? Pra onde foi? O que está fazendo? Será que já faleceu? Essas foram as minhas primeiras indagações.


Zampa, o vilão que pertencia aos Quadridemos na série Jaspion, o vilão mais famoso dublado pelo Guerra nas séries japonesas.


Tentei localizar algo pelos meus meios de pesquisa, mas nunca obtive sucesso. Cheguei a encontrar alguns homônimos, mas não tinha nada a ver com a pessoa que eu queria encontrar. Eu praticamente já tinha desistido, até que surgiu um fato novo: O amigo Marcelo Almeida havia escutado a voz dele numa ponta em um filme feito na Clone, mais ou menos no final de 2008. Isto foi um susto! Ele tinha voltado a dublar! Em seguida foi o Nelson Machado, que postou em seu site que “depois de mais de 20 anos reencontrei o José Carlos Guerra, o Gonzo do Muppets Show, na BKS”. Foi uma nova pista. E certeira. Mais do que depressa, o grande companheiro Marco Antônio, do Blog A.I.C. contatou o Nelson por e-mail, que disse que o Guerra estava dublando com frequência na BKS. Daí pra frente foi uma questão de dias pra conseguir um contato direto do ator. E eu liguei pra ele. 10/10/2010, um Domingo à noite, peguei meu telefone e disquei para o celular dele. E fui atendido. Aliás, muito bem atendido.

Conversamos por cerca de 20 minutos, falamos sobre o passado e presente, ele me disse que começou na A.I.C., assim como a grande maioria, que migrou da Rádio São Paulo, e que o trabalho de maior repercussão dele havia sido o Comissário Gordon na série do Batman, mas que tinha feito muita coisa durante a vida. Até Diretor na Álamo ele foi. Citei as séries japonesas e ele se lembrou de imediato, comandadas pelo Líbero Miguel, e até comentou que foi nesta época que ele parou. Ah, e a voz continua a mesma! Mudou muito pouco!

Enma Dai Oh, personagem de anime feito recentemente pelo Guerra, em Dragon Ball Kai, na BKS, substituindo o finado João Batista.

Atualmente está morando numa cidade próxima a São Roque – SP. Apresentei o meu trabalho com o Blog e do Marco, que foi fundamental para que localizássemos o profissional. Ele ficou contente em saber que existem pessoas que lutam para que a chama desta parte da história artística do Brasil mantenha-se acesa, e eu respondi que a cooperação dele, caso ele aceitasse, seria de uma riqueza grandiosa, já que ele havia vivido e acompanhado de perto uma parte da história que muito pouco se tem informação hoje em dia. Falamos outras coisas, citamos nomes de alguns colegas como os saudosos Ézio Ramos, Gastão Malta, Francisco Borges, etc. Ficou muito contente e disse que podemos sim conversar mais sobre isso. Deixei meu e-mail pra ele passar para o filho dele, Jefferson, entrar em contato comigo, pois ele não usa computador. Desta forma, consegui esta imagem tão valiosa, de um dos rostos que mais queria conhecer. E acredito que falo isso em nome de muitos colegas que acompanharam a trajetória “José Carlos Guerra”, na comunidade Dubladores de Tokusatsu, no Orkut. E tem mais, “Guerra”, é nome artístico, por isso jamais conseguiria encontrá-lo buscando por este nome. Seu sobrenome real é Vieira.

Um grande abraço ao Jefferson, por ter colaborado inicialmente com a imagem e algumas informações, e ao próprio Guerra, pela gentileza ao telefone. Com certeza conversaremos mais no futuro. A hipótese de uma entrevista não está descartada. Seu trabalho fez parte da minha vida e de tantos outros fãs ao longo do tempo que isso é o mínimo que podemos proporcionar a você, talentoso ator. Muito obrigado, saúde, e longa vida, José Carlos Guerra!

Abaixo, um trecho do Anime Comando Triplo Dolbuck, feito na Álamo em 1987, onde o José Carlos Guerra Dialoga com o Carlos Laranjeira.


Neste episódio, ele dublou o Marcel, mas ele tinha dois personagens fixos no seriado: O mecânico Bob e o Chefe de Edelía, Zéler.

5 comentários:

Anônimo disse...

parabens como sempre Ivan, você foi determinado e achou o que queria!, compreendo muito você, pois também tenho as minhas lutas na dublagem, descobri algumas pessoas também.

sobre ele dublar o senhor Enma Daioh, eu jamais imaginaria isso uhahua, vou assistir curioso também pra ver isso! sobre ele substituir o João Batista no papel, é verdade, foi o ultimo a dubla-lo, mais a maior parte do tempo que o Enma Daioh teve participação sempre foi do Felipe Di Nardo, quando o João o substituiu, o Enma falava muito pouco, inclusive eu torci pra chamarem o Felipe, que inclusive foi diretor na Bks até a alguns anos atras, e depois foi pra São Sebastião morar, uma pena que não o chamaram.

um abraço meu caro.

Betarelli, Ivan D. disse...

Oi Gerson, é assim mesmo, ficamos anos pesquisando algo que estava tão fácil de descobrir...

Criei até um ditado para a siuação: "Não existe dublador difícil de descobrir, é vc que não perguntou para a pessoa certa".

Eu também, num primeiro momento, achei que chamariam o Di Nardo pra dublar, mas como o papel é pequeno e ele está aposentado, duvido que ele voltasse.

Abraços.

Michel disse...

Depois de passar o mês de novembro em branco, finalmente uma atualização. E que atualização! Sei que você leva uma vida muito corrida, e mal a gente consegue um tempinho pra trocar uns e-mails. Também tenho blog, e sei como é difícil pra mantê-lo atualizado, por isso mesmo, seria leviano da minha parte ficar cobrando algo. Às vezes, isso acaba desistimulando às visitas diárias em blogs, mas este não é o meu caso. Blog de amigo eu visito diariamente, mesmo sabendo que a pessoa não atualiza sempre. Sabe aquele pensamento, será que é hoje que sai uma atualização, será que é hoje... Eu faço apenas um gesto que gostaria que fizessem comigo, digo com meu blog, entende?
Quanto à postagem, não tem como eu não tirar o chapéu para o belo trabalho que você vem realizando, meu amigo Ivan. Um trabalho complicado, o de resgatar e preservar a memória da dublagem nacional, que é magnífica, mas que se deixa perder com o descaso. Essa falta de registro no que foi dublado, por parte das dubladoras e dos dubladores, é algo que deveria ser contornado. Jamais conseguiria imaginar esse tipo de situação, aqui na dublagem japonesa, do dublador não se lembrar quais os trabalhos que fez, e mesmo com quem trabalhou. Muito legal o contato que você vem alcançando com os dubladores, mais do que apenas lembrar de coisas passadas, mas o início de uma nova amizade. Eu mesmo não me lembro mais da voz do Zampa, então nem conseguiria reconhecer a voz do Jose Carlos Guerra em outra produção. Valeu pelo trecho do Dolbuck. Não tinha visto esse episódio dublado, e até que ficou boa a adaptação em português.

Vida longa ao Falando de Dublagem!

Betarelli, Ivan D. disse...

Oi Michel, consegui "arrancar" outro comentário seu! Hahaha...

Realmente, no caso da falta de tempo, sou eu que fico devendo mais respostas pra vc do que vc pra mim, e não gosto nada disso. Tento contornar, melhorar, vc deve ter visto que no mês passado, trocamos quase que uma mensagem por semana pelo menos, mas já empacou de novo. Uma pena.

E sobre a visita diária, eu também faço como vc, no seu, do Nagado, Cruz, Marco Antonio, dentre outros, dou pelo menos uma visualizadinha dia sim, dia não, sempre na espera de uma nova postagem. E vira e mexe tem algo novo!

É, o legal disso tudo é que o trabalho que tenho está sendo reconhecido/ recompensado, não só pelos amigos como vc mas também pelos dubladores. Já tem alguns que me procuram, coisa que nunca tinha acontecido até então. Era sempre eu que ia "encher o saco" deles.

E vamos tocando o barco...

Grande abraço e obrigado pelo comentário.

Eduardo Consolo dos Santos disse...

Ele que também está dublando no Futurama o Professor Farnsworth, que nas temporadas clássicas era dublado pelo Gileno Santoro.